Vencendo com Calma

TEMPORAL : The Art of Stephan Doitschinoff (aka Calma) from Jonathan LeVine Gallery on Vimeo.


escrito por Heinar Maracy na revista MAC+

Stephan Doitschinoff, conhecido também como Calma, é um artista plástico transcendental. Nascido em São Bernardo do Campo, transcendeu suas origens, seu país e virou um sucesso mundial. Começou seu trabalho no Mac e transcendeu o computador, saindo da ilustração comercial para as artes plásticas. Seu trabalho ultrapassa os limites do grafite e da pintura, e pode ser encontrado em galerias de arte na Escandinávia ou em muros e casebres no sertão baiano. Recentemente, lançou seu primeiro livro e um documentário sobre seu trabalho como muralista na Chapada Diamantina. Conversamos com Stephan sobre sua obra, suas influências e seus Macs.


MAC+ Como você começou?

Calma Foi em 1996, em agência de propaganda, como assistente de direção de arte e fazendo cenografia. Fiz pôsteres, fui assistente de cenografia e de cenários para eventos como Monsters of Rock, Hollywood Rock, Close Up Planet. Meu primeiro Mac foi um Power Mac 7100. Trabalhava com ilustração digital, normalmente desenhando à mão, depois digitalizando e pintando no Photoshop. Nunca tive PC. Em 2004, parei de trabalhar com ilustração digital para me concentrar na minha pintura. Vendi meu iMac para me forçar a trabalhar somente no papel. Fiquei quase dois anos sem computador. Aí, fui fazer residência na Inglaterra, em um centro cultural em Manchester. Parei com as ilustrações e comecei a me dedicar às artes plásticas, que é o que mais gosto. Ainda fazia alguns trabalhos para publicidade pela grana, mas aos poucos fui conseguindo me sustentar só com a pintura, conforme fui conseguindo ser representado por galerias lá fora.

MAC+ Seu trabalho tem um estilo muito próprio e marcante. Como é conciliar isso com o trabalho de propaganda?

Calma Durante um bom tempo, tive dois estilos, o meu e o “comercial”, que eu utilizava em trabalhos de publicidade e não queria que confundissem com meu trabalho pessoal. Ainda faço alguma coisa de ilustração, mas escolho os clientes com cautela. Normalmente, são coisas que têm a ver comigo e onde posso desenvolver trabalhos com meu estilo. Nos últimos tempos, fiz ilustrações para um livro de contos ciganos para a Cosac Naify, um de contos de Andersen e a capa de um disco do Sepultura (Dante XXI). São temas que têm muito a ver com meu trabalho. Bebo muito em temas mitológicos e religiosos. Uma das minhas maiores influências é Gustave Doré, juntamente com Albrecht Dürer.



MAC+ Quando você voltou para o Mac?

Calma Voltei a usar Mac, um MacBook, basicamente para me comunicar pela internet. É o meu uso principal. Mas recentemente me pediram um trabalho bem diferente. A Corbis, uma das maiores agências de fotografia e arte, encomendou dois alfabetos baseados em minhas ilustrações. É um trabalho bem bacana, cada letra é uma ilustração. É um esquema diferente e bem interessante, com curadoria e representação para trabalhos encomendados. A Corbis paga pelo trabalho e tem exclusividade sobre as imagens por dois anos, depois os direitos voltam para o artista. Tenho a intenção de transformar o alfabeto em uma fonte, para ser utilizada como capitular, por exemplo. Mas para isso preciso de um assistente. Não tenho a menor ideia de como o Fontographer funciona. Ele existe ainda?

MAC+ Fica, então, a dica para os leitores interessados em um estágio. Além da internet, para que mais você usa o Mac?

Calma Hoje, não me separo do meu Mac. Além das minhas músicas, vídeos e de ferramenta de comunicação, também faço alguns trabalhos nele, como o convite para minha vernissage. Normalmente uso Photoshop, mas vira e mexe preciso vetorizar algumas artes para fazer telas de serigrafia ou na produção do meu oratório.

MAC+ Você é reconhecido como grafiteiro, mas seu trabalho não é bem grafite. Seu livro mostra bem isso.

Calma Apesar de eu expor e trabalhar com artistas do grafite, prefiro evitar o rótulo, pois o lance de pintar no espaço urbano é apenas uma parte do meu trabalho, que inclui pintura em tela, gravura, objetos, instalações etc. Eu também sempre me identifiquei mais com a pintura mural clássica e a arte sacra.

O livro foi lançado pela editora alemã Gestalten. Já participei de 12 livros de coletâneas deles, mas essa é a primeira monografia. O livro foi desenvolvido em colaboração com o designer Pedro Inoue, que fez um trabalho sensacional. Juntamente com o livro, foi lançado também um documentário, que pode ser visto no Vimeo.

MAC+ Por que você resolveu pintar muros e capelas em Lençóis?

Calma O trabalho em Lençóis surgiu de uma vontade de fazer um “site especific” (obra de arte pensada para um determinado lugar, levando em conta suas características). Eu havia me retirado para Lençóis, na Chapada Diamantina no interior da Bahia, e resolvi fazer algo por lá. Inicialmente, pensei em pintar no centro da cidade, mas ele é tombado pelo patrimônio público. A resposta da população foi um choque, tanto positivo como negativo. Muita gente adorou e entendeu que as obras trazem certo valor para o local. Mas já tive obras apedrejadas por pessoas mais supersticiosas ou que não entendem a proposta. Minha irmã, que mora lá em Lençóis, conta que um grupo de evangélicos saía do culto religioso e ia apedrejar as obras, gritando que eram coisa do diabo.


MAC+ De onde vem toda essa influência religiosa?

Calma Sempre estudei e pesquisei diferentes religiões e seitas, assim como mitologia e a interpretação psicológica dos contos de fadas. Acredito que essas são minhas principais influências hoje em dia. Muita gente percebe as referências ao simbolismo católico nas minhas obras, mas não é a única. Há, também, muita influência do budismo tibetano, lendas, contos de fadas e mitologia em geral. Não me considero uma pessoa religiosa. Para mim, é tudo mitologia. Acredito que, um dia, a religião cristã será encarada como hoje encaramos a mitologia nórdica ou grega.

MAC+ Há algum objeto eletrônico que deseje, atualmente?

Calma Estou contente com meu Mac, mesmo não sendo o último modelo. Meu sonho de consumo atual é um iPhone. Tenho um iPod que já está meio velhinho, e um iPhone viria a calhar. É bem possível que, com ele, eu nem precise mais levar o notebook em viagens.

1 comentários:

blackblog disse...

MUITO LEGAL GOSTEI!!!!