A mulher invisível e a gargalhada visível



Os três filmes de maior bilheteria neste ano são comédias. No Brasil, nunca ninguém perdeu dinheiro apostando no riso alheio – e é possível que agora essa tendência se intensifique
por André Nigri



O ano começou para o cinema brasileiro sob a ameaça de retração, queda de público e receita – e, devido à crise econômica, com expectativas muito baixas mesmo para o mercado de filmes hollywoodianos. Um semestre e três filmes nacionais depois, o que parecia impossível aconteceu. Levando-se em consideração os números comparados dos cinco primeiros meses dos últimos 15 anos, as produções nacionais bateram em 2009 o recorde de público da chamada “era da retomada” – aquela que começa em 1995 com Carlota Joaquina, de Carla Camurati.

De acordo com os analistas do mercado, é possível que em 2009 o público total do cinema brasileiro ainda se aproxime do recorde histórico de 2003, quando foi atingido o pico de 20 milhões de espectadores. O ano de 2009 traz outra peculiaridade. O excelente número se deve quase que exclusivamente a um único gênero: a comédia. Os três maiores sucessos de bilheteria até agora configuram apostas bem-sucessos de bilheteria até agora configuram apostas bem-sucedidas no mercado do riso.

“Se Eu Fosse Você 2, de Daniel Filho, reina soberano em primeiro lugar com mais de 6 milhões de espectadores, recorde absoluto da retomada. Ele é seguido por Divâ, de José Alvarenga Jr., protagonizado pela atriz Lília Cabral, que já levou 1,7 milhões de pessoas aos cinemas.

Por enquanto, a medalha de bronze – tendendo para Prata – está com o filme de Selton Mello , A Mulher Invisível, dirigido por Cláudio Torres, que em apenas três semanas foi visto por mais de 1 milhão de pessoas. No segundo semestre estréia ainda Os Normais 2, de 2003 teve um público de quase 3 milhões de pessoas. Tudo leva a crer que a continuação com Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres irá superar com folga 1 milhão. Essas cifra é considerada cabalística pelos analistas do cinema brasileiro.

É a partir desse número que um filme de médio porte, no Brasil, costuma dar lucro. A produtora Rita Buzzar, de Olga (2004) e Budapeste (2009), disse recentemente que o cinema brasileiro está passando por um momento de reformulação. Afirmou a necessidade de a produção nacional se aproximar do público e segmentar-se em gêneros. Disse também que pensa em produzir uma comédia.

Como ensinava o filósofo alemão Theodor Adorno, mercado e arte se retroalimentam. Na indústria cultural, se um gênero começa a fazer muito sucesso, um número cada vez maior de artistas e investidores migra para ele. Se Adorno estiver certo, podemos estar próximos de um novo ciclo da comédia no Brasil.

Trecho retirado da Revista BRAVO/julho 2009

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